Sem educação somos massa sem energia
Nesta última sexta fui à recepção de boas vindas dos calouros do segundo semestre da Universidade de Brasília. Não sei se era a euforia acrítica do momento, mas me chamou atenção que a grande parte dos estudantes batiam palmas como focas saltitantes ao escutarem as palavras de abertura do atual senhor reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Júnior.
O magnifico reitor enalteceu a importância de uma educação de qualidade, alardeou os ‘’enormes’’ avanços da democratização do ensino superior e vestindo a camisa (literalmente) do novo lema da universidade, “Efeito UnB: ideia, ação e transformação”, eufórico fez uma propaganda resplandecente do papel da UnB e das universidades públicas na produção do conhecimento e consequentemente no desenvolvimento do Brasil. Palavras bonitas, publicitárias, receptivas, coloridas, e claro intrinsicamente políticas, carregadas de promessas de um futuro melhor.
Palavras que infelizmente tem o dom de maquiar a verdadeira realidade gritante do ensino público do nosso país, ou melhor, da precariedade da educação como um todo na América Latina. Como pode se falar em democratização do ensino, quando menos de 15% dos jovens brasileiros estão na universidade? Como podem falar que Educação é prioridade em nosso país, enquanto é destinado o valor pífio de menos de 4% do PIB para o ensino, e para piorar tivemos nesse ano um corte que sangrou as veias já secas da nossa educação, ou seja, R$ 3 bilhões foram retirados, precarizando ainda mais as condições já inadequadas de grande parte das escolas e universidades brasileiras!
Só a UnB perdeu mais de R$ 10 milhões de investimento que teria nesse ano. Prioridade na educação? Balela..só se for em época de eleições, pois o que reina é o descaso desse direito essencial! E olhe que desde 2001, lembro do governo dizer com coração de mãe que investiria 7% do PIB em educação nos próximos dez anos. Pura demagogia!
O Plano Nacional de Educação PNE 2001-2010 fracassou tristemente, sendo que grande parte de suas metas jamais foram cumpridas. Mas nós continuamos a viver, ou melhor, sobreviver de promessas, pois agora minha gente, a meta dos 7% foi jogada (podendo ser ‘revista’!) só para 2020. Quer dizer, a proposta do governo é nos oferecer daqui a dez anos algo que já nos prometeu há dez anos atrás. Bravo Brasil..teremos 20 anos de atraso em nossa educação! Se não fossem os poucos estudantes e professores engajados, a dar voz à verdade na sexta, a calourada sairia dali com a ofuscante impressão de que tudo corre a mil maravilhas no sistema de ensino (se é que não pensam assim, só por já terem conseguido superar o afunilamento elitista de ingresso nas Universidades Públicas).
Aliás, corrijo, pois hoje ao ler um pequeno informe da Oposição Estudantil CCI – Combativa, Classista e Independente - levei um legitimo susto! Eu tinha uma ligeira ideia de que a elite estava dentro das universidades publicas, mas ao ver que em 2010, somente 4% das vagas da UnB foram preenchidas por alunos de escolas públicas fiquei chocada, das 3958 vagas abertas, apenas 154 estudantes de escola pública conseguiram entrar. De acordo com recente pesquisa da Andifes, 66% dos estudantes das universidades federais tem uma renda familiar superior a R$ 3800. Logo é uma falácia dizer que o ensino superior do Brasil preza pela igualdade, pela democratização.
Quem está na universidade pública é a média e grande burguesia, enquanto a maioria esmagadora da população não tem acesso a educação superior. E os que estão lá dentro, também não estão livres de problemas, pelo contrário, irão ver que as universidades públicas vêm sendo cada vez mais sucateadas para privilegiar a iniciativa privada. Como não acreditar que a educação vem sendo mercantilizada quando 70% das universidades brasileiras são privadas?! Repito, é um verdadeiro engodo a propaganda da democratização do ensino.
Cada vez mais são injetadas verbas dos cofres públicos nas fundações privadas e menos nas universidades públicas. Vemos isso na falta de estrutura adequada, nos salários de fome pagos aos servidores das universidades públicas, no forçoso relacionamento promiscuo entre público e privado, já que os defensores neoliberais tem disseminado cada vez mais a ideia na comunidade acadêmica, que as universidades públicas não podem viver sem as fundações privadas ditas de apoio, quando na maioria das vezes não contribuem com a produção acadêmica e ainda se apropriam do espaço publico das universidades para realizarem seus negócios.
A mercantilização do conhecimento é por demais lucrativa para o Estado neoliberal, não só financeiramente, como também ideologicamente, pois vem formatando o pensamento dos jovens estudantes e dos professores, no sentido de fazê-los se adequar aos valores mesquinhos e interesseiros do sistema, que ao meu ver só busca, naturalizar a desigualdade e ampliar seus quadros de dirigentes capitalistas. Nesse sentido, é preciso lutarmos verdadeiramente pela construção de um país que preze por uma educação de qualidade, que não seja elitista, que não pense somente em lucros mas sim, que legitime a conscientização, o pensamento critico, a igualdade, a cultura como agente mobilizador de mudanças e transformações sociais em prol de uma sociedade mais justa.
Digamos NÃO a essa educação vendida aos interesses econômicos e políticos! Lutemos contra a ofensiva neoliberal e contra os dragões da riqueza injusta. Lembrando que no dia 24 de agosto haverá uma grande mobilização na esplanada em defesa da aplicação imediata de 10% do PIB nacional na educação pública. Participemos! Façamos como nossos amigos chilenos e uruguaios, que nestes últimos meses vem expressando o descontentamento com a educação pública e exigindo mudanças. Temos que nos unir e formar um cordão de consciência critica. Só assim não seremos massa de manobra para políticos sujos e neoliberalistas inescrupulosos.
Brunna Guimarães - Caloura de Filosofia. É Jornalista formada pelo IESB e Editora de Literatura do Jornal O MIRACULOSO