sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PORQUE A CHAPA 8 (ALIANÇA PELA LIBERDADE) NÃO ME REPRESENTA


PORQUE A CHAPA 8 (ALIANÇA PELA LIBERDADE) NÃO ME REPRESENTA

por Cynthia Funchal, quinta, 27 de Outubro de 2011 às 21:02


No começo desta manhã, saiu o resultado das eleições para DCE, o que, de uma forma ou de outra, reflete o Movimento Estudantil na Universidade de Brasília. Foi anunciada a vitória da chapa 8, formada pelo grupo, já conhecido na UnB, Aliança pela Liberdade. No entanto, o reflexo que eu vejo não é relativo às propostas colocadas pela chapa (que giram em torno do apoio à presença da PM no campus e apoio às fundações privadas na Universidade PÚBLICA), muito menos ao que precisam os e as estudantes da UnB.

Fora as diferenças ideológias entre direita e esquerda que, querendo ou não, influenciam em parte o meu posicionamento e creio que o de várias outras pessoas também, o que eu vejo desse resultado é a clara desarticulação de todo o Movimento Estudantil da UnB. Acho importante lembrar, acima de tudo, que a posição de cada um e cada uma deve, sim, ser respeitada. No entanto, me questiono se é possível termos uma representação plena de um grupo que diverge e muito de todos os outros, um grupo que foi eleito praticamente por setores bem específicos da Universidade (muitos que, até então, não tinham grande participação nas urnas): Engenharia, Direito, Ciência Política, Relações Internacionais, Economia, Contabilidade, Administração, Estatística, e por aí vai. Se analisarmos o quadro de votações e inclusive do próprio grupo, vemos uma presença MÍNIMA nos demais cursos da Universidade, como Artes, Turismo, Ciências Sociais, Serviço Social, Letras, Saúde, Educação Física, Química, Ambientais, Pedagogia, as Licenciaturas, dentre outros cursos, sem contar os campi de Planaltina, Gama e Ceilândia, em que praticamente não tiveram votos. O que vejo é que, na UnB, essas áreas dividem inclusive o perfil dos e das estudantes, tendo entre os/as eleitores/as da Aliança pela Liberdade principalmente cursos que já possuem a maior parte dos investimentos em pesquisa e cursos que temos maior parte das pessoas de classe média alta. Isso mostra uma baixa participação dos outros setores da Universidade, seja pela pouca divulgação sobre o que é o DCE e a sua importância, seja pela própria organização dos espaços dentro da UnB, que dificulta a comunicação.

Se formos pensar pelo lado "esquerda" e "direita", se 7 das 8 chapas são de "esquerda", e tivemos mais de 5.000 votos, dos quais a aliança venceu por apenas 182, será mesmo que o maior desejo dos/as estudantes é um grupo que siga essa ideologia? Será que esses outros setores em que o grupo não obteve uma quantidade considerável de votos teve algum incentivo para participar do processo eleitoral? Acredito que isso seja um reflexo da completa desmobilização da Universidade de Brasília como um todo. É importante, sim, a preocupação com a Universidade em si. É importante voltar propostas para os/as ESTUDANTES e para o andamento da Universidade. Mas precisamos lembrar que UNIVERSIDADE não é apenas um curso técnico. Mais do que profissionais e pesquisadores/as, a Universidade forma CIDADÃS E CIDADÃOS. É importante, sim, a preocupação com os investimentos em educação no país, é importante a preocupação com o que acontece fora das paredes da Universidade, é importante, sim, saber valorizar as pessoas, a terra, o país, a democracia e, mais importante, a LIBERDADE sim. Liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de morar, liberdade de pensamento. Mas não só dentro da UnB, mas no Distrito Federal, nos grupos sociais, nos movimentos sociais, no MUNDO. Se prender a um mundo fechado e alienado apenas no âmbito acadêmico e profissional é virar as costas para o mundo, para a educação, pra sociedade, pro movimento, pra LIBERDADE.

Movimento Estudantil é muito amplo. Não pode se restringir apenas às questões globais, nem mesmo excluí-las. Lutar por uma educação PÚBLICA e de QUALIDADE é movimento estudantil. Lutar pela democratização do acesso ao ensino superior é movimento estudantil. Lutar por segurança na Universidade é Movimento Estudantil. Lutar por melhorias no curso é movimento estudantil.  Desde o movimento em favor do Santuário dos Pajés, até os pedidos para aumento das linhas de ônibus que passam pela Universidade e a briga pela contratação de mais professores/as, ISSO é movimento estudantil. Qualquer participação, seja pequena, seja grande, que busque a melhora nas condições de ensino (sejam estruturais, sejam setoriais, sejam globalizados), que busca atender a interesses de estudantes, isso é movimento estudantil. O tempo e a dedicação que cada pessoa dá a isso não deve ser taxado como faz o pessoal da Aliança. MILITANTE TAMBÉM É ESTUDANTE. Quem apoia ocupações, movimentos, e até mesmo Cérare Battisti, TAMBÉM É ESTUDANTE. Como vocês mesmos disseram nas passagens em sala: quem defende essas pautas, são minoria. Pois bem, MINORIA TAMBÉM ESTUDA! Se vocês se dispuseram a representar um DIRETÓRIO CENTRAL DOS/AS ESTUDANTES, lembrem-se disso! 

Aí eu me pergunto: será que um grupo que praticamente não apresenta propostas e nem se mostram aptos a tocar pautas para assistência estudantil, cultura, valorização dos cursos, comunicação, INTEGRAÇÃO com outros campi, combate às opressões na Universidade, direito e voz das "MINORIAS", um grupo que defende a privatização do ensino através da interferência de fundações privadas (que financiam em sua maioria pesquisas na área de TECNOLOGIA, mas não de formação de educadores/as, na educação básica, nas artes e nem na assistência social), que defendem a presença constante da PM no campus (que já está na Universidade, mas que ATÉ HOJE sua presença não teve efeito a não ser a prisão opressora de dois estudantes moradores da CEU, que foram arrastados escada abaixo enquanto os próprios seguranças patrimoniais colocavam suas vidas em risco), que não defendem cotas raciais, que praticamente não possuem mulheres ativas e participantes, não participam das atividades nos outros campi, que NÃO DEFENDEM A PARIDADE NOS CONSELHOS, não defendem o VOTO DOS/AS ESTUDANTES, não defendem o MOVIMENTO ESTUDANTIL, será que esse grupo é capaz de representar TODA a UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA? Será que é capaz de ME representar?NÃO! A ALIANÇA PELA LIBERDADE NÃO ME REPRESENTA! 

Cynthia Funchal é estudante de letras português e integrante do CALET UnB

2 comentários:

  1. Cynthia,

    Compreendi seu posicionamento e concordo com 80% (senão 90 haha) do que você escreveu. Porém, já que você escreve enquanto CA de Letras, fica uma sugestão: pressionar a chapa vencedora para que cumpra com sua proposta de transferir o poder do DCE para o Conselho de Entidades de Base. É assim que funciona aqui em minha universidade (UFSJ), e acredite, o movimento estudantil se torna muito mais plural e democrático. Caso se interesse, posso lhe enviar o nosso estatuto.

    Att.

    Daniel Gonzaga
    (estudante de história da UFSJ e membro do DCE-UFSJ)


    p.s.: ao contrário da chapa que venceu aí, nosso DCE tem plena consciência da necessidade de articulação com os movimentos sociais e com questões mais "globais" (que, na verdade, nunca estiveram descoladas de demandas específicas, por mais que pareçam distantes).

    ResponderExcluir
  2. Daniel,

    O texto não foi escrito enquanto CA de Letras (apesar de terem divulgado aqui), foi escrito simplesmente enquanto estudante. Só estou falando isso porque talvez outra pessoa possa ver a nota e entender como um posicionamento do Centro Acadêmico, mas não é (pelo menos, não foi tirado ainda nenhum posicionamento enquanto centro acadêmico sobre isso).

    Acho importante acompanhar a gestão, cobrar algumas coisas e, principalmente, ajudar no que for preciso. Mas eu, pessoalmente, não acredito na proposta de um DCE parlamentarista na UnB. Tenho lido sobre como funciona na UFSJ, pode até ser que, pra vocês, dê certo, mas acho que a Universidade de Brasília não tem ainda conjuntura ou sequer representação suficiente em suas entidades de base para instituir uma gestão a partir do Conselho de Entidades de Base. Na UnB, de certa forma, as deliberações já são feitas através desses conselhos e boa parte das atividades também eram realidades em com conjunto com Centros Acadêmicos (embora eu também acredite que a última gestão não soube fazer uma comunicação eficiente com os CAs).

    E o Movimento Estudantil da UnB ainda tem muitos problemas de articulação, representatividade e mesmo de convivência. Acho que a implementação desse processo (de colocar cargos na gestão a partir da eleição de delegados/as por parte do Conselho de Entidades de Base) a partir dessa gestão algo inviável, até mesmo porque a própria dinâmica na UnB tem sido diferente, o grupo foi eleito por um programa e uma visão de Universidade que pode ser muito diferente da que tiverem os/as estudantes "delegados" ao DCE, para depois se retirarem da gestão? Acho que fica contraditório, e talvez até colocasse em questionamento a representatividade do grupo e das próprias eleições.

    Enfim, de qualquer maneira, é algo que deve ser discutido com toda a comunidade acadêmica, não é algo que possa ser simplesmente implementado pela gestão quando isso não foi discutido com os/as demais estudantes. Acho que tudo tem de ser pesado (não só se o modelo de DCE é bom ou ruim, mas se ele será eficaz na atual conjuntura da UnB).


    Mas se puder enviar o estatuto para que eupossa conhecer, eu agradeço ;) Qualquer coisa pode mandar pro contato do CALET que depois encaminham pro meu email: caletunb@gmail.com

    Até!

    ResponderExcluir